ENTREVISTA

 

NAPOLI POR NAPOLI

 
     
 

por Comunicação ABTPé

O mais novo dos três filhos e de apelido Nenê, já que tinha sete anos e meio a menos que o mais velho e era seis anos e meio mais novo que a irmã, relata as dificuldades dos imigrantes italianos no Bom Retiro, sua mudança com a família para o bairro de Jabaquara e algumas lembranças do desenvolvimento de São Paulo na época, e se lamenta por ter convivido pouco com seu irmão e como lhe marcou o único presente que ganhou da família: guarda até hoje uma réplica do brinquedo.

“No meu aniversário de sete anos, ganhei meu primeiro presente, já era dezembro e meu pai comprou uma espingardinha automática alemã, o símbolo do que eu não recebi em toda minha infância, brinquei muito, com muito carinho; depois de muitos anos, um sobrinho quebrou, fiquei muito chateado e chorei aos 27 anos, mas consegui comprar uma réplica nacional e guardo comigo até hoje”, conta o fundador da ABTPé.

“Fui um bebê e uma criança subnutrida, minha mãe não tinha leite, era raquítico e meus irmãos tinham vergonha de mim. Aos quatro, cinco anos, apareceu um estetoscópio em casa e eu brincava, consultava todo mundo e já me chamavam de doutorzinho.”

Sobre sua educação, o Professor Napoli relata: “Só pude ir para escola aos nove anos. Os colégios eram caríssimos. Me dediquei, fiz os quatro anos no Marechal Floriano na Vila Mariana. Depois fiz curso preparatório para fazer o ginásio do Estado, era de alto nível e sem custo. Eu tinha 13 anos e fui preparado pelo professor Luiz Cardoso Ranchel, meu primeiro grande amigo. Entrei entre os primeiros, minha base no Colégio foi muito boa, Dona Leonor me ensinou juro composto no quarto ano do Colégio. Foram cinco anos de ginásio, sempre na primeira classe”.

“Meu nome é Manlio Mario Marco Napoli, mas só descobri isso para entrar no Ginásio, achava que era só Manlio Napoli. Quase perdi o concurso para o Ginásio por que não sabia que sairia publicado no Diário Oficial, e nem qual era meu nome completo”, relembra.

O Prof. Napoli resume seu início na Universidade: “Aos dezoito anos entrei no Pré-médico, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Eu consegui tirar a diferença do tempo que eu perdi entrando tardiamente na escola; me dediquei e alcancei os outros. Fazia curso simultâneo, passei na faculdade direto, ganhei um ano. Na época, existiam oito grupos especializados, mas não existia do pé, o pé era completamente rejeitado. Ia para o laboratório de anatomia dissecar pé. Foram cinco anos para eu ter autorização para fazer Pé na ortopedia, em 1955. Pé torto era o grande desafio. Depois de dez anos, Osny Salomão se juntou a mim”.

Momentos mais marcantes: “Eu não queria casar, tinha planos de ir para o Paraná, mas meu colega desistiu e eu acabei ficando e casando. Em 2 de janeiro de 1946 passei para o Hospital das Clínicas. Casei em 1950, ano Santo, com Cesarina D`Angelo, eu com 29 e ela com 23 anos, no civil, no mesmo dia do meu aniversário. Não tive filhos”.

O Clube do Pé: “O Clube do Pé começou quando eu comprei o consultório na Pedro de Toledo, em 19 de julho de 1977, segundo a ata. Começamos com 18 membros. O Clube cresceu, da minha edícula para vários Estados. Até hoje é muito importante, os residentes todos querem participar, às quintas-feiras atualmente, antes era duas vezes por semana. Muita gente, recebíamos os doentes, estudávamos os casos, coisa bonita de se ver”, conta emocionado.

A Sociedade: “O início era entusiasmo puro, mas pouco sócio, muita inadimplência. Mas eu sempre pensei grande. Comprei essa casa para ser a sede, era uma escola para crianças alemãs e inglesas, tudo pequeno, precisamos reformar durante um ano. Foi uma oportunidade, apesar de Santo Amaro ser longe de tudo. A fundação foi em 1975 com 101 fundadores, temos sede própria, estamos bem, somos nacionais e estamos à frente dos outros países, alcançamos 600 sócios, estamos por todo Brasil. Foi minha vida”.

O Palmeirense conta que se aposentou aos 70 anos e que está finalizando sua autobiografia que será lançada em breve. “Para fazer medicina em instituição oficial é preciso abrir mão de muita coisa. Estudei a vida toda, só Pé, mais nada. Sou um filho da Medicina”.

O futuro: “Não tenho saudade de nada. Não espero nada também, só que a ABTPé seja eterna. Queremos fazer a Sociedade Mundial do Pé e o Palácio do Pé, um prédio de 10 andares, mas isso é sonho”.

Confira a entrevista completa no youtube da ABTPé. Acesse.