ESPECIAL

 

ABTPĂ© entrevista Dr. Carlos Alfredo Lobo Jasmin

 
     
 

 

Carlo Henning

Novo Hamburgo - RS

chtrauma@yahoo.com.br

 

Confira a entrevista realizada com o Dr. Carlos Jasmin, diretor de Defesa Profissional da AMB. O especialista acaba de deixar o cargo e conta sobre seu trabalho durante sua gestão, além de planos futuros.

  1. Há quanto tempo estás envolvido em atividades voltadas à defesa profissional?

Há aproximadamente 27 para 28 anos.

  1. O que te motivou a iniciar essa atividade?

Em verdade não ocorreu uma motivação: foi um ato contínuo. Eu era sócio de uma clínica de Ortopedia e o responsável pela administração. Lidava com todos os convênios (operadoras). Numa reunião para criar a ACCOERJ (Assoc. de Clín. E Cons. Ortopédicos do Rio de Janeiro), acabei sendo indicado para presidi-la e de lá para cá, foi um fato constante o meu envolvimento.

  1. É um trabalho árduo que requer muita dedicação e horas longe da família. Como foi manejar isso?

A nossa profissão nos ensina isto: ser presente estando quase sempre ausente. Mas, o momento em que isto mais aconteceu foi agora à frente da Defesa Profissional da AMB.

  1. Depois de tanto tempo nessa luta passando por várias conjunturas políticas e econômicas, o que de mais importante foi conquistado para a classe médica, em especial para o ortopedista e traumatologista em tornozelo e pé?

Eu diria que vem sendo um aprendizado constante. Muitas das vezes, ao ouvir o que os nossos colegas reclamam, nós temos a percepção de que nada é possível. Em verdade acredito que esta é a verdade. Somente quando assumi a diretoria de Defesa Profissional da SBOT em 2015, pude dar o rumo que entendi adequado. Comecei procurando a AMB para discutir os valores da Ortopedia na CBHPM.

Temos uma relação totalmente promíscua com as operadoras de planos de saúde. Não temos nenhum fato legal que suporte as nossas relações. O contrato que alguns tinham assinado até 2014 regulamentando a relação prestador e operadora, e que se tornou obrigatório a partir da lei 13.003, (d24 de junho de 2014), lamentavelmente foi transformado numa arapuca que desrespeita o prestador impondo regras que só têm valor por que nenhum credenciado tem coragem de questioná-lo na justiça.  

A ANS que deveria regulamentar a saúde Suplementar, entende que deve ser sua preocupação o relacionamento dos pacientes com as operadoras, não devendo intervir na relação das operadoras com os prestadores, como se isto não tivesse efeito sobre o paciente.

Por outro lado, aqueles colegas que reclamam, dizem que ninguém faz nada por eles, são os primeiros a desrespeitar qualquer proposição que façamos de confrontação com estas operadoras. Além disto, é habitual vermos estes colegas correndo para aceitar proposições que contrariam até mesmo aquilo que eles criticaram.

Tudo na vida é pautado em leis e se pretendemos ser ouvidos precisamos que as leis nos sejam favoráveis. E como elas são criadas no Congresso Nacional, em Brasília, é lá que precisamos concentrar os nossos esforços.

Este foi o caminho que entendi, desde 2015, como o mais adequado. Precisamos trabalhar para eleger deputados e senadores que estejam comprometidos com os nossos ideais. Sem isto qualquer sonho não passará de ilusão.

  1. E qual é o próximo passo? Qual é o rumo que devemos seguir?

Devemos entender que leis são criadas por políticos e que devemos ter uma bancada que trabalhe pela saúde como um todo. 

Nossa CBHPM só será o nosso parâmetro quando ela for uma lei. Assim o CADE não poderá questionar e as operadoras terão que respeitá-la.

As faculdades de medicina de terceira classe que estão sendo abertas pelo país afora, só serão fechadas quando as leis impuserem um mínimo de qualidade. E como qualidade neste caso não está associado a lucro, imediatamente haverá desinteresse.

O estado só cumprirá o seu dever quando as leis assim o impuser. Mas como quem faz as leis hoje pretende ser chefe de estado amanhã, o seu compromisso não se dá com o interesse público.

  1. Quais são as maiores dificuldades enfrentadas para termos êxito nas nossas reivindicações?

Não termos leis que suportem estas expectativas.

  1. Para entendermos melhor, de forma breve, qual a diferença das entidades como CRM, CFM, AMB e SBOT quanto a nossa representatividade e poder de mudanças no âmbito da defesa profissional?

Acho que esta pergunta é a mais importante desta entrevista. O CFM e a AMB foram criados na década de 50 do século passado com as seguintes incumbências: ao CFM e suas regionais (CRMs) cabe legislar sobre o ato médico; à AMB e suas federadas, bem como às Sociedades de Especialidades, cabe o aperfeiçoamento profissional. A nenhuma destas entidades cabe a atividade de atuar como polícia ou de lutar pela remuneração dos nossos profissionais. A função de lutar pelas nossas remunerações cabe aos Sindicatos, que lamentavelmente fizeram de tudo, menos serem nossos defensores neste aspecto. Chegamos a ter no Brasil um sindicato dos médicos especialistas. Isto é um verdadeiro absurdo.

O maior dos absurdos que isto carrega é o fato de que quanto mais fragmentados estivermos, menos forças nós teremos. Não sou contra a criação de Sociedades de Subespecialidades, mas a sua criação não enfraquecer a nossa entidade mãe que é a AMB. Além disto, por nunca fiscalizarmos o que se passou nesta entidade, ela foi palco de desvios de verbas gigantescos denunciado à justiça pela diretoria de que ainda participo na AMB. Encontramos, somente entre os anos de 2008 a 2018, um desvio de aproximadamente sessenta milhões de reais. A funcionária responsável pela fraude foi demitida por justa causa e responde a processos, estando ela e alguns outros com os bens bloqueados pela justiça. Além do que, encontra-se nas mãos do Ministério Público toda a investigação para se saber quem mais participou desta roubalheira.

O que de melhor poderemos fazer, será:

  • ter a AMB como nossa verdadeira representante;
  • votar para as suas diretorias, com responsabilidade, sem tratar estas eleições como se fossem disputas clubísticas e;
  • fiscalizar quem lá estiver para que cumpram os seus deveres à frente da Associação. 
  1. Você é um grande conhecedor desse assunto, qual o papel você sugere que a ABTPé, como instituição, tenha ou ofereça ao seu associado no campo da defesa profissional?

A ABTPé deverá se manter nesta atividade de fomentar a melhor qualificação profissional de nosso associado. E como não cabe a ela trabalhar pelo zelo à nossa profissão e aos cuidados com a nossa remuneração, torna-se imperativo que ela se alinhe à AMB e ajude a fiscalizar quem à estiver comandando. Chega de lidarmos com a AMB como se fosse apenas um patamar para projeção pessoal de alguns. Ela precisa assumir o papel central de nossa profissão, já que nossos sindicatos não cumprem os seus papéis.

  1. Tenho relatos de pessoas próximas a você na AMB que já estão sentindo a sua falta como presidente do comitê de defesa profissional. Dificilmente irá conseguir se separar em definitivo desse engajamento vivido por tantos anos. Quais são os planos do Jasmin para de agora em diante?

Não estou abandonando o barco. Apenas, depois de tantos anos trabalhando nesta atividade, sem receber nenhuma remuneração por isto, entendi que está na hora de pensar um pouco na velhice que se avizinha e tentar provê-la de alguma forma. Não estarei desligado de tudo. O que pretendo é não ter o compromisso assumido. Isto sim me rouba espaços, pois não sei deixar de atender às demandas que chegam. Sem o compromisso, poderei escolher o quê e de que forma fazer.

Muito obrigado Dr. Jasmim pelas respostas objetivas e tão informativas. Com certeza fostes brilhante naquilo que almejou e conseguistes ajudar nossa classe médica. Essa é uma peleia sem fim, mas tivemos um grande comandante a nossa frente. Parabéns Dr. Jasmin pelo seu trabalho!