CONGRESSOS E EVENTOS

 

AAOS – 2019 Speciality Day

Paulo César de César
Porto Alegre/RS
pcdecesar@terra.com.br

 

O dia da especialidade do Congresso Anual da AAOS deste ano foi de alto nível, como de costume, e este texto tem por objetivo ressaltar alguns destaques do evento:

• Discussão sobre fatores de risco na recidiva do hálux valgo. A literatura descreve que o índice de recidiva após a cirurgia do hálux valgo varia de 2,6 a 16% e há vários fatores de risco envolvidos: ângulo de valgismo do hálux pré-operatório maior do que 40o, posição do sesamoide pós-operatório igual ou maior do que 4, ângulo de valgismo do hálux no pós-operatório imediato maior do que 8o, metatarso aduto pré-operatório maior do que 23o, ângulo articular metatarsiano distal (DMAA) acima do valor considerado normal, hálux valgo juvenil, hipermobilidade da primeira articulação metatarsocuneiforme e instabilidade intercuneiformes. Foi discutida a confiabilidade da medida do DMAA, e comentada que esta medida é influenciada pela rotação do 1o metatarsiano. Estudo utilizando tomografia com carga demonstrou que apenas 12,5% dos háluces valgos não têm pronação do primeiro metatarsiano.

• Mesa de discussão sobre pé plano com os professores Jonathan Deland, Caio Nery e Jeffrey Johnson. O alongamento da coluna lateral deve ser em média de 6 mm, devendo preservar a eversão normal e não se deve tentar construir uma rco. Foi comentada a importância da osteotomia medializante do calcâneo, pois já foi demonstrado que ela é o único fator que influencia na correção do valgo do retropé. Outro estudo demonstrou que os melhores resultados na correção do pé plano ocorrem quando o alinhamento do calcâneo no plano axial (hindfoot moment arm) fica entre 0 mm a 5 mm de varo, quando comparado com calcâneos com mais de 5 mm de varo ou calcâneos em valgo.

• Há uma crescente preocupação entre os médicos norte-americanos com o abuso de opioides entre os pacientes. Há, na minha opinião, um exagero por parte dos colegas norte-americanos na prescrição desta medicação. Para citar um exemplo, um estudo demonstrou que 13,2% dos pacientes que consultaram na emergência por entorse de tornozelo receberam prescrição de opioide e destes, 8,4% mantêm o uso de opioide por mais de 9 dias, sendo que quanto maior o número de pílulas na prescrição inicial, maior o tempo que o paciente ficará fazendo uso desta medicação.

• Foi apresentada revisão da literatura mostrando que nas infiltrações para osteoartrite de tornozelo os resultados foram superiores com ácido hialurônico e com plasma rico em plaquetas comparados com os resultados da infiltração com corticoide ou com células tronco mesenquimais. Entretanto, estas conclusões são feitas a partir de pequenos ensaios e não são, desta forma, completamente confiáveis.

• Foi apresentado um estudo sobre a sobrevida da prótese de tornozelo modelos STAR e HINTEGRA demonstrando que a sobrevida em 5 anos é de 85% a 96% e em 10 anos de 71% a 94%. Outra revisão da literatura avaliando 58 estudos (7942 artroplastias totais do tornozelo) demostrou que a sobrevida em 10 anos da prótese de tornozelo é de 89%, o índice de falha anual é de 1,2%, e 23% das próteses de tornozelo irão apresentar radiolucência após 4,4 anos.

• Discussão sobre um assunto muito relevante, a necessidade ou não de sutura do ligamento deltoide. O apresentador que não indica de rotina a sutura do deltoide, Prof. Michael Gardner, justificou sua conduta citando um estudo clínico randomizado publicado no Journal of Bone and Joint Surgery em 1995, no qual foram comparados 25 casos com sutura e 25 casos sem sutura do ligamento deltoide em pacientes com fratura de tornozelo, e que não mostrou diferença nos resultados entre os grupos. Este autor mostrou também uma revisão sistemática da literatura que demonstrou ausência de diferença entre suturar ou não o deltoide. Já o autor que defende a sutura de rotina do ligamento deltoide, Prof. Eric Bluman, mostrou estudos biomecânicos mostrando que a sutura agrega estabilidade ao tornozelo e à sindesmose. O autor citou também estudo que demonstrou uma diminuição do espaço claro medial nos pacientes que tiveram o ligamento deltóide suturado, comparado aos pacientes que não o tiveram, e que esta diferença no espaço claro medial influenciou os resultados clínicos. Um argumento usado para indicar a sutura do deltoide é que os estudos publicados não avaliam instabilidade residual no tornozelo, que pode ser um problema nos pacientes nos quais a sutura não é realizada. De qualquer forma, não houve consenso entre os colegas. Ainda neste módulo de fratura do tornozelo, foi apresentado um estudo sobre a importância da fixação do maléolo posterior.

Nos casos em que a fixação foi realizada, houve necessidade de fixar a sindesmose em somente 5% dos casos e nos casos em que a fixação do maléolo posterior não foi realizada a sindesmose foi fixada em 81% das vezes. Em outras palavras, a fixação do maléolo posterior estabilizou a sindesmose e diminuiu a necessidade de fixação tíbio-fibular.

• Por fim uma discussão sobre fratura-luxação da Lisfranc: artrodese primária ou redução e fixação interna. Nesta mesa, chegaram a alguns consensos: nas lesões de baixa energia, estabilização com placa e/ou dispositivos flexíveis; nas lesões com cominuição articular, artrodese primária para o primeiro, segundo e terceiro raios; e nas lesões de alta energia, mas sem cominuição articular, houve uma tendência entre os debatedores para artrodese primária nos raios mediais